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14/02/2018

[Report] Rotting Christ, Carach Angren e Svart Crown @ RCA Club, Lisboa


Longe das estepes geladas da península escandinava o Black Metal alastrou as suas perversas e obscuras raízes, bebendo as influências regionais de terras distantes para sofrer mutações que enriqueceram ainda mais o género. Sob o selo da Season of Mist e pela mão da Ritos Nocturnos, a tour que passou por Lisboa no passado dia 10 de fevereiro presenteou-nos com três abordagens ao Black Metal, numa exposição europeia com montras oriundas de França, Holanda e Grécia. Um oculto e irresistível ritual que esgotou completamente a sala do RCA Club, imersa em chamas de fogo-fátuo que aqueceram a noite fria do inverno lisboeta.
               
A primeira amostra da perversa sinfonia viria por parte dos franceses Svart Crown. 
SVART CROWN
Apesar de batalharem desde 2004, eram uma banda desconhecida para a maioria, mas os elogios que lhes eram feitos pela crítica e por aqueles conhecedores da sua música, aguçaram a curiosidade e foi com a sala já bem composta que apresentaram o seu Blackened Death Metal
Encontraram um público morno, mas crescente em número e entusiasmo à medida que os seus riffs desconcertantes iam sendo absorvidos e a voz salivante a decadência e blasfémia aí vincando a sua presença erguendo-se sobre a cadência da bateria. Os ritmos insanamente contorcidos eram acompanhados por aplausos e headbangings dos fãs e de quem os estava a descobrir, presenteados por uma curta viagem que mesmo assim permitiu dar a conhecer os álbuns mais recentes com destaque para o ultimo “Abreaction”, particularmente bem recebido nos temas ‘Nganda’ e ‘Orgasmic Spiritual Ecstasy’, exalando um som monumental construído com base em sólidos riffs e belos solos. Saíram de palco com a certeza de serem uma banda a descobrir.

CARACH ANGREN
A viverem um tremendo momento de popularidade, os holandeses Carach Angren não só eram co-headliners da Tour Rituals Among The Rotten com as lendas gregas Rotting Christ, como também eram responsáveis por uma considerável percentagem do público que se deslocou a Alvalade naquela noite de sábado e que os recebeu com entusiasmo.

Fazendo uso do seu Symphonic Black Metal para narrarem histórias de horror através de sucessivos álbuns conceptuais, traziam na bagagem um ainda fresco “Dance and Laugh Amongst the Rotten” pelo qual começaram com single ‘Charlie’, começando a provocar um turbilhão na sala que eclodiu no primeiro circle pit da noite, logo no segundo tema ‘The Carriage Wheel Murder’. 


Narradores do imaginário sombrio, é com um grande foco na componente cénica que se apresentam em palco, com destaque para o vocalista Seregor, vestindo com rigor a personagem, reinventando-se á medida que a música o vai exigindo, seja com um coroa na cabeça, seja com outra máscara, seja com uma atitude contagiante e credível que liga o público à banda e o arrasta para as tenebrosas fábulas que as suas letras encerram.

Dividiram a cerca de uma hora de atuação pelo sua discografia, tocando temas de todos os álbuns, deixando para o fim “Death Came Through a Phantom Ship”, com o tema ‘Bloodstains on the Captain's Log’. Datas esgotadas na sua primeira passagem por terras Lusas e com reencontro marcado para Agosto.

De terras helénicas, os deuses gregos do Black Metal faziam mais uma passagem por Portugal. São já doze álbuns de originais, uma maneira muito sua de fazer música sem mimetismos diretos com a escola nórdica, que lhes concedeu um lugar especial entre um público seu, com muitos seguidores, nomeadamente em território nacional, onde sucessivas incursões sempre nos brindaram com grandes concertos.

Assim sendo, foi com a casa cheia e com uma multidão de braços no ar, que os Rotting Christ tocaram ‘Devadevam’, tema com que iniciaram a atuação, porta de entrada escolhida para o álbum “Rituals”, que já tinham trazido a Portugal em 2016 quando atuaram no Santa Maria Summer Fest. 
Intensificando os metal horns e generalizando o headbanging prosseguiram com ‘Kata Ton Daimona Eaytoy’ do álbum “Κατά τον δαίμονα εαυτού” e com ‘Demonon Vrosis’, uma solitária passagem pelo álbum “Aealo”. 
Retornaram ao “Rituals” e viajaram no tempo até 1991 e 1993 presenteando o público que incessantemente gritava o nome da banda com memorias do EP “Passage to Arcturo” e do álbum “Thy Mighty Contract”. 
A já habitual cover ‘Societas Satanas’ arrancou o maior mosh da noite, entre uma plateia galvanizada pela entrega da banda, espalhada em mais um impressionante desempenho vocal de Sakis Tolis, que a espaços ia sendo acompanhado na voz pelos fãs que submergiam nas palavras repletas de crítica religiosa e ocultismo. 
Com muito Crowdsurfing ‘In Yumen-Xibalba’ e ‘Grandis Spiritus Diavolos’ conduziram-nos até uma curta pausa.


Retornados para o encore tocaram ‘666’. Antevendo que a noite estaria a aproximar-se do fim, a energia na sala atingiu o seu ponto mais alto, o hino final, a incontornável ‘Non Serviam’ lançou basta percentagem da plateia aos saltos, e começou uma torrente de stage diving que até obrigou o baixista Van Ace a uma criteriosa gestão de espaço para conseguir tocar. 
Com o embalo dos aplausos tocaram os últimos acordes e saíram de palco com gritos por Rottting Christ como pano de fundo.
               
Parabéns à organização da Ritos Nocturnos, que conseguiu que numa sala completamente esgotada a entrada se fizesse célere e sem confusão, permitindo a todos desfrutar de excelentes concertos, naquela que terá sido uma das melhores noites dos últimos tempos ano na capital.  

Esperemos por novo Retorno de Svart Crown e Rotting Christ. Quanto a Carach Angren, novo encontro marcado para o Vagos Open Air.

Texto: Henrique Duarte
Fotos: Joana M.Carriço (todas as fotos aqui)
Vídeos: SFTD Radio

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